*Este é um capítulo POSTERIOR A Skylar, por tanto, CONTÉM SPOILERS.
O dia de Eterna
Elyas andava de um lado para o outro no jardim escuro, ansioso pela chegada da irmã. No último ano, a ex-herdeira do trono de Liria havia publicamente renunciado a coroa, passando-a para o irmão. Junto com a declaração, jurou lealdade e proteção aos lirianos apesar de seu breve afastamento.
Então, ela foi para a Terra. "Anjos", como eram chamados, de acordo com o que ela dizia em suas breves visitas. Kamirya havia sido quem lhe contara sobre e, depois que o caos sobre a pedra finalmente acabara, ela reuniu o restante de coragem para enfrentar seus pais e ir atrás de um novo propósito.
— Los Angeles — Ela disse uma vez, em uma das visitas. — Significa "Os anjos" em espanhol, um dos idiomas dos terráqueos.
Celestia estava sentada no parapeito da sacada, as asas translúcidas brilhavam com sua magia. Ela não fazia questão de ocultar na frente do irmão. As roupas não eram mais vestidos chiques, mas sim trajes de guerra: calças largas, blusas folgadas. Bolsos e cintos para facas e, repousando ao seu lado. Um arco e flechas.
— Essa mulher, um tipo de capitã — continuou — disse que minha magia era extraordinária, ainda mais para alguém que jamais treinou. Ela me colocou em uma série de testes, existem várias legiões com objetivos específicos, mas surpreendentemente... eu fui cotada para os anjos guerreiros.
— A mãe vai adorar saber disso. — Elyas zombou. — Isso não é perigoso?
Ela deu de ombros.
— Sim e não. Na Terra também existem demônios. — Celestia explicou. — São os opostos dos anjos. Em maior parte, os conflitos são relacionados a eles. Ouvi dizer que existem alguns extremamente poderosos, imbatíveis, mas outros apenas gostam de se aproveitar de humanos indefesos. Violam a lei, provocam brigas, coisas do tipo.
Saindo de seus devaneios, Elyas olhou para o céu, observando a posição da lua. Faltava pouco tempo e Celestia estava...
Um estrondo na grama, seguido de um gemido feminino e um brilho suave.
— Eu sei. — A princesa disse quando encontrou os olhos do irmão. — Eu me atrasei.
Sem explicações, ela correu para a entrada secreta que o irmão havia preparado, já ordenando às respectivas criadas da irmã para ficarem de prontidão ali mesmo. Ele a conhecia bem o suficiente para saber que algo como aquilo poderia acontecer, então, no caminho, sabão foi esfregado na pele pálida da princesa ao mesmo tempo em que vestia um novo vestido e uma terceira criada penteava os curtos cabelos, habilidosamente criando uma coroa formada por tranças que se destacaria quando Celestia colocasse sua tiara real.
Estavam um andar abaixo do salão, onde a festa já acontecia.
— Pronta? — Elyas perguntou.
Celestia o encarou, os olhos negros pareciam refletir galáxias inteiras. Ela havia ocultado as asas, mas o modelo escolhido para a festa ainda a deixavam com a aparência angelical: sem corselet, um tecido transparente segurava firmemente o busto reforçado e acenturado, a saia com diversas camadas fluidas e com duas fendas em cada tecido que a compunha. As mangas eram presas por dois braceletes prateados em cada braço, um pouco abaixo dos ombros e outro nos pulsos, deixando mais tecido solto. Cada camada possuía um toque translúcido e, com a mistura de cores, a princesa parecia a incorporação de todas as deusas. A coroa, também prateada, era o que lembrava a sua posição de fato.
— E quando eu não estive? — Ela respondeu, entrelaçando o braço com o do irmão, vestido com a última moda de gala do reino.
Ao entrarem no salão, rindo pelas provocações que faziam enquanto subiam as escadas, levaram um segundo para perceber o silêncio que sua presença causava, significava. E então alguém gritou:
— A PRINCESA RETORNOU!
Mais gritos, esses em celebração, dominaram o salão. Seus pais foram os primeiros a se aproximar, abraçando a filha com carinho e saudades.
— Está na hora. — Iothys finalmente disse, observando a lua atingir seu ponto mais alto.
Em silêncio, os irmãos seguiram os pais até a varanda, frente ao povo. Liria inteira estava cantante e iluminada naquela noite. Eles esperaram até as cornetas serem tocadas para seu anúncio anual, a música parando aos poucos e as pessoas que dançavam nas ruas agora se aproximando para ouvir. Alguns gritos de elogios para a princesa e a rainha foram proferidos, no que elas sorriram gentilmente.
— Povo de Liria. — Iothys começou. — Hoje é o dia de Eterna, deusa da alma, que nos abençoa a cada ano com novas vidas, novos destinos.
— Vamos apagar nossas chamas por um momento — Elyas prosseguiu com o discurso, surpreendendo Celestia que nunca o vira falar para o povo — e deixar que Illume nos abençoe com a luz da lua, e no silêncio possamos sentir a natureza das deusas tomando conta de nós, nos guiando para mais um ciclo.
Para a surpresa de Celestia, foi o que o seu povo fez. Uma a uma, as luzes flamejantes foram se apagando e o silêncio dominou as ruas. Um vento repentino soprou, um toque carinhoso em sua pele e ela sorriu.
— Bardos — Iothys clamou — entretenham Liria até o amanhecer.
Antes que pudesse piscar, o rei tomou a mão da rainha, descendo a escadaria e a conduzindo até a rua que voltava ao seu ritmo.
Ambos dançavam, sorrindo, e logo mais os gêmeos se viram em um salão vazio. O dia de Eterna era o único em que a nobreza não se preocupava em dançar com os pobres.
— Você falou bem. — Celestia disse, quebrando o silêncio.
— Sou o futuro rei, é minha obrigação. — Elyas ajeitou a postura, fingindo pompa. Celestia deu um tapa no topo da cabeça do irmão.
— Ainda é um príncipezinho, não se anime. — Ela zombou. — Posso sentir saudades e voltar e reclamar a coroa.
— Teria que duelar por ela agora.
Celestia gargalhou.
— Você quer mesmo me desafiar? — Suas asas apareceram e seus olhos mudaram do tom negro para um misto de tons de azuis.
Ele sorriu.
— Estou feliz por você, Celestia. E... — Ele olhou para onde seus pais estavam poucos minutos atrás, de alguma forma não conseguia ver rostos, apenas vultos, mas os reconhecia mesmo assim. — tem mais gente que quer te parabenizar essa noite.
Quando Celestia seguiu o olhar, Aaron foi o primeiro a dar um passo à frente, seguido de Malakye e então alguns dos phoenias e sycrax que tanto a ajudaram. Os olhos da princesa não contiveram as lágrimas quando ela imediatamente correu para abraçá-los e logo os puxou para o meio da música.
Até o amanhecer do primeiro dia do novo ano, música ressoava por toda Liria.